"Cura" é um dos temas mais discutidos na psicanálise, especialmente lacaniana. Freud, nos anos 20 ou 30 já discutia o que seria a cura psicanalítica: falava no "rochedo da castração" e em sublimação (pela arte). O Burgess seria um belo exemplo da sublimação. A vida dele é uma tragédia e os esquisitos, os estranhos, os bizarros personagens são uma bela transmutação da tristeza. Eu penso que o estupro da sua mulher e a perda do filho na década de 40 são um exemplo daquilo sobre o que ninguém conseguiria falar... e ele não se calou.
Bom, quando assisti o filme pela primeira vez, achei uma coisa muito louca. Ora empolgação, ora medo, é um filme "estranho", mas um grande filme. Essa cena traduz um pouco do que eu penso do filme, no começo ela é engraçada, estranha, no entanto, o fim é uma loucura, uma cena talvez bizarra. Talvez é essa mistura de coisas que faz esse filme uma grande obra.
A ultima cena resume que por mais que ele não consiga fazer o que antes fazia ele ainda tem vontade, os pensamentos seguem os mesmos. A técnica não conseguiu repelir os seus valores mais sim o que estes atraem
Bom, faz tempo que assisti ao filme na íntegra, então vou comentar a cena isolada. Logo no início, aquelas coroas de flores me lebraram de cara um sepultamento. Então entram os fotógrafos, a mídia em geral, o que excita o personagem num primeiro momento, "valoriza" sua cura. Em seguida, no entanto, todos aqueles flashs e exagero dos jornalistas começam a afetar a cabeça dele e o último trecho da cena talvez já represente um retrocesso na "cura".
O contrasenso de estar curado e ele cheio de gesso e hospitalizado com ferimentos. Com todo circo em volta da personagem em função da cura faz ele sentir como se estivesse transando com uma linda mulher enquanto as pessoas assistem e aplaudem.
"i was cured, all right"... o que fica, paralelo ao susposto sucesso do experimento (comemoração, fotografos etc) é que a cura é "aparente", pois só inibe os sintomas, pq ele continua pensando a mesma coisa, tendo a mesma vontade, só nao consegue agir. A cena de sexo do final simboliza isso. Não que ache esbatimento de sintomas um problema, muito pelo contrario, mas isto é outro assunto.
O Slooshy Smot Slooshy Clockwork Orange é um espaço destinado a apreciadores, fãs e curiosos sobre o filme Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick.
Com o objetivo de reunir o maior número de comentários e manifestações sobre cenas particulares do longa-metragem, o blog servirá como base de análise para o meu Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo na Unisinos - Laranja Mecânica: entre o real e o imaginário.
Serão destacadas aqui as seqüências do filme que mais se utilizam da imagem e do som na produção de significados. Os leitores e informantes deste espaço ficam livres para o formato e linguagem de opinião publicadas, como também autorizam, automaticamente, que seus comentários façam parte do exercício.
Eu agradeço muito a todos pelos comentários e pela participação. É uma gentileza de cada um que dedica minutos do seu tempo aqui.
6 comentários:
"Cura" é um dos temas mais discutidos na psicanálise, especialmente lacaniana. Freud, nos anos 20 ou 30 já discutia o que seria a cura psicanalítica: falava no "rochedo da castração" e em sublimação (pela arte). O Burgess seria um belo exemplo da sublimação. A vida dele é uma tragédia e os esquisitos, os estranhos, os bizarros personagens são uma bela transmutação da tristeza. Eu penso que o estupro da sua mulher e a perda do filho na década de 40 são um exemplo daquilo sobre o que ninguém conseguiria falar... e ele não se calou.
Marcello (@mopereira no twitter)
Bom, quando assisti o filme pela primeira vez, achei uma coisa muito louca. Ora empolgação, ora medo, é um filme "estranho", mas um grande filme. Essa cena traduz um pouco do que eu penso do filme, no começo ela é engraçada, estranha, no entanto, o fim é uma loucura, uma cena talvez bizarra. Talvez é essa mistura de coisas que faz esse filme uma grande obra.
A ultima cena resume que por mais que ele não consiga fazer o que antes fazia ele ainda tem vontade, os pensamentos seguem os mesmos. A técnica não conseguiu repelir os seus valores mais sim o que estes atraem
Bom, faz tempo que assisti ao filme na íntegra, então vou comentar a cena isolada. Logo no início, aquelas coroas de flores me lebraram de cara um sepultamento. Então entram os fotógrafos, a mídia em geral, o que excita o personagem num primeiro momento, "valoriza" sua cura. Em seguida, no entanto, todos aqueles flashs e exagero dos jornalistas começam a afetar a cabeça dele e o último trecho da cena talvez já represente um retrocesso na "cura".
O contrasenso de estar curado e ele cheio de gesso e hospitalizado com ferimentos. Com todo circo em volta da personagem em função da cura faz ele sentir como se estivesse transando com uma linda mulher enquanto as pessoas assistem e aplaudem.
"i was cured, all right"... o que fica, paralelo ao susposto sucesso do experimento (comemoração, fotografos etc) é que a cura é "aparente", pois só inibe os sintomas, pq ele continua pensando a mesma coisa, tendo a mesma vontade, só nao consegue agir. A cena de sexo do final simboliza isso. Não que ache esbatimento de sintomas um problema, muito pelo contrario, mas isto é outro assunto.
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